Quando meu cliente disse que precisa de minha ajuda na próxima semana, eu prontamente me disponibilizei. Não fazia ideia do erro que estava cometendo até receber os detalhes da minha missão: negociar uma parceria com um potencial investidor que morava em Boa Vista, Roraima, e que se recusava a viajar.
Depois que olhei os voos para Boa Vista, prometi para mim mesma nunca mais dizer sim, antes de perguntar os detalhes. Pelo menos era um cliente que pagava direitinho e não reclamava do preço. Eu ia faturar bem.
Chegar em Boa Vista é uma aventura! São apenas 3 voos diários, um de Manaus e dois de Brasília. Os voos estão sempre lotados e é mais barato ir para Miami do que para lá. Escolhi a rota por Brasília e três dias depois eu desembarcava em Boa Vista. Cheguei de madrugada e pedi um Uber no aeroporto. Para minha grata surpresa, fui atendida rapidamente e por um motorista muito prestativo. Ele desceu do carro, colocou minha mala no bagageiro, abriu e fechou a porta para que eu sentasse no banco traseiro e, antes de começar a viagem, mostrou o seu zelo com o seu cliente:
-Seja bem vinda à Boa Vista, dona Silvia. Será um prazer conduzi-la.
Me penitenciei por não ter gravado o nome do motorista e só consegui responder com um obrigado. Enquanto ele iniciava a viagem, olhei de novo no aplicativo e desfiz a falta de educação:
-Leonardo, como está o clima em Boa Vista?
-Dona Silvia, estamos no inverno aqui, pois Boa Vista fica acima da linha do Equador. O clima está seco, em torno dos 35 graus e sem previsão de chuva para os próximos dias. Recomendo que a senhora beba muita água.
-Obrigado, Leonardo. Você é de Boa Vista?
-Sou nascido e criado aqui, Dona Silvia. Meus pais vieram de Manaus há mais de quarenta anos e fizeram a vida aqui. A cidade é ótima, a senhora vai gostar.
Duvidei dessa afirmação, mas não a discuti. Não gostaria de ferir os sentimentos dele. Leonardo falou mais alguma coisa sobre a cidade, mas eu já estava distraída no celular. Rapidamente chegamos ao hotel. Ele me ajudou com a mala e me acompanhou até a recepção. Não pude deixar de dar cinco estrelas e ainda uma gorjeta para ele.
O hotel era novo e agradável. Dormi bem e acordei com a manhã livre. Minha reunião estava agendada para o início da tarde. Resolvi caminhar pela cidade e me surpreendi com a boa estrutura para corridas e caminhadas. Me empolguei e fiz um treino de 10 quilômetros. O final foi mais sofrido, pois o sol já estava alto e o clima seco já cobrava o preço. De volta ao hotel, tomei café, depois um banho e pesquisei sobre um bom lugar para almoçar. Encontrei um restaurante próximo ao Rio Branco e pedi um Uber para me levar até lá.
Para minha surpresa, foi atendida novamente pelo Leonardo. Ele me recebeu com a mesma simpatia da noite anterior:
-Bom dia, Dona Silvia. Tudo bem com o hotel?
-Bom dia, Leonardo. Sim, tudo certo. E você? Já na labuta?
-Não podemos parar, Dona Silvia. Vou iniciar a corrida. Vejo que a senhora escolheu um bom restaurante para o almoço. Não vai se arrepender.
-É bom mesmo o lugar?
-Sim, muito bom. E a vista é ótima. Chegaremos rapidinho.
Enquanto eu olhava algumas mensagens no celular, Leonardo nos levou rapidamente ao restaurante. E novamente fui surpreendida: um prédio moderno, muito bonito e com uma boa comida. E a vista para o Rio Branco valia a visita por si só. Gostei.
Depois do almoço, chamei o Uber e confesso que fiquei desapontada quando vi que era outro motorista. Nenhum problema com ele, que me cumprimentou, ofereceu a balinha de praxe e fez o trajeto sem nenhum problema, mas eu estava mal acostumada com a simpatia do Leonardo.
A negociação foi tranquila. O investidor era muito rico, bem conhecido em Boa Vista e fazia questão de negociar em seu escritório, enorme, muito bem decorado em um dos poucos prédios de Boa Vista, que ele fez questão de dizer que era dele. Elogiei o escritório e a cidade, e isso o desarmou. Rapidamente resolvemos as preocupações que ele tinha com o negócio, validei com o meu cliente e fechamos o acordo. Ele chamou sua assessoria jurídica e no fim da tarde, empoderada pela procuração do cliente, eu assinava a minuta do contrato.
De volta ao hotel, resolvi antecipar meu voo, que estava marcado para a madrugada do dia seguinte, pois eu esperava que a negociação demoraria mais tempo. Doce ilusão a minha. Não havia vagas no voo e me vi obrigada a passar mais um dia em Boa Vista. Depois de jantar, para celebrar a negociação e aproveitar o anonimato em Boa Vista, lá estava eu em uma balada com música ao vivo. Era uma quinta-feira, então o lugar não estava muito cheio. Peguei uma cerveja enquanto uma banda começava a tocar forró no palco. O pessoal começou a se animar e eu dava risadas sozinha. Se alguma das minhas amigas me visse ali, numa balada de forró, me internaria imediatamente.
Comecei a segunda cerveja e a empolgação foi aumentando. Já estava decidida a aceitar o primeiro convite para dançar, quando escuto uma voz familiar:
-Boa noite, Dona Silvia. Se divertindo bastante em Boa Vista?
Virei e Leonardo estava ao meu lado, também com uma cerveja na mão. Talvez embalada pelas cervejas, dei uma conferida geral nele e gostei do que vi. Eu sou alta e Leonardo era pouca coisa mais alto do que eu, mas estava muito bem vestido, com a barba bem feita e, percebi quando se aproximou para me cumprimentar, com um belo perfume. Não resisti:
-Você dança, Leonardo?
Ele retirou a cerveja da minha mão e colocou no balcão, junto com a dele. E rapidamente me levou para a pista de dança. Gente, homem que dança bem é tudo de bom! E Leonardo dançava muito bem! Ele me conduzia com destreza, com movimentos leves, mas firmes. Me girava para lá e para cá. Um verdadeiro bailarino! Eu estava encantada e comecei a cogitar a possibilidade de dar um pega nele. Ainda sem ter certeza sobre isso, coloquei meu arsenal de expressões sensuais para funcionar e Leonardo correspondeu à altura. Três ou quatro músicas depois, quem olhasse para gente apostaria que éramos amantes de longa data.
A banda fez uma pequena pausa e aproveitamos para retornar ao balcão. Elogiei:
-Leonardo, você dança muito bem, parabéns.
-A senhora também, Dona Silvia.
-Não me chame de senhora, Leonardo. Agora sou sua parceira de balada.
Ele riu, pedimos outra cerveja e ficamos conversando. Descobri que ele era solteiro, tinha terminado um noivado há cerca de dois anos e não tinha planos de envolvimento sério pelo futuro próximo. Ótimo, pensei, não vou furar os olhos de ninguém.
Para encurtar a história, Leonardo dormiu comigo no hotel naquela noite. Dormiu não, passou a noite comigo. E que noite! O rapaz fez acontecer! Quando ele deixou o quarto, próximo das seis da manhã, eu estava exausta de tanto trepar e gozar!
Adormeci, acordei já na hora do almoço e mandei uma mensagem a ele, agradecendo a companhia e a noite maravilhosa. Ele respondeu, agradeceu e disse que iria trabalhar, pois sexta-feira era um dia movimentado para ele. Eu esperava que ele passasse a tarde comigo, mas entendi. Almocei e aproveitei a tarde livre para colocar os e-mails em dia.
Ele disse que me levaria do hotel ao aeroporto, para meu voo, que decolaria de madrugada. Pedi para ele chegar um pouco mais cedo e assim o fez. Ele veio direto da sua jornada com o Uber e chegou suado, com a barba por fazer e com uma cara de malandro que me deixou animada. Eu já estava pronta para partir e meu plano era convidá-lo para uma bebida antes do voo, mas mudei de ideia. Disse ao recepcionista que havia esquecido algo no quarto, pedi a chave de volta e levei Leonardo comigo. Ele me pegou de jeito, com mais força do que na noite anterior, e tenho certeza que o recepcionista ouviu meus gritos. Não deu tempo de tomar banho e quando desci de volta à recepção, meus cabelos bagunçados denunciavam o que acontecera no quarto.
Leonardo me deixou na sala de embarque e nos despedimos:
-Silvia, eu vou guardar na memória essas duas noites para sempre. Você é uma mulher maravilhosa!
Disse isso ao meu ouvido, enquanto apertava discretamente minha bunda.
-Leonardo, eu também não vou esquecer de Boa Vista, por sua causa!
Também disse isso ao ouvido dele, apertando seu cacete por cima da calça. Depois entrei para a sala de embarque e me sentei. Enquanto pensava no que acontecera em Boa Vista, eu trocava mensagens com o Lucas, reclamando de quão chata estava sendo minha viagem. Enquanto isso, pouco antes do embarque começar, o agente da companhia aérea fez o anúncio pelo microfone:
-Senhores, boa noite. Nosso voo para Brasília está lotado e temos duas pessoas na lista de espera que precisam estar nesse voo, para acompanhar o velório de familiares. Estamos oferecendo um voucher de quatrocentos reais, mais estadia e alimentação, para quem puder ceder seu lugar e voar no Domingo.
Pensei rapidamente e escrevi ao Lucas:
“Lucas, você não vai acreditar! O voo está com overbooking e só vou sair de Boa Vista no Domingo!”