Eu estava em pé, olhando o cardápio da padaria, distraída, quando ele chegou ao meu lado e disparou:

-Posso lhe recomendar algo?

Como que acordada do transe, olhei e do meu lado estava esse homem, alto, com mais de 1,80. Eu tenho um fraco por homens altos, confesso. Antes de responder, dei aquela geral e fiquei levemente impressionada com o que vi:

Cabelos curtos, pretos, sem nenhum fio de cabelo branco. Ou a genética lhe é favorável, ou gasta uma boa grana com a pintura. Se fosse essa última opção, sabia onde fazer, porque não deixava transparecer. A barba, espessa, bem feita, aparada com cuidado. Um sorriso branco, com dentes perfeitos. Outro presente da natureza? Ou um belo trabalho de um profissional de Odontologia?

Rosto bonito, charmoso, de olhar firme. Alto, como eu já contei. E estava muito bem vestido, com sua camisa social apertada, valorizando o peitoral malhado na academia, combinando com a calça slim, exibindo as pernas definidas. Claramente já com mais de quarenta anos.

Um recém-separado, pensei. Quando conferi a mão esquerda, a aliança estava lá, brilhante, reluzente, enorme. Casadíssimo!

Me penitenciei. Provavelmente ele só queria ser gentil. Afastei meu sexto sentido, que gritava que eu receberia uma cantada, e fui gentil:

-Claro que pode. O que sugere?

Colocando as garras de fora, cheio de si, ele se aproximou até quase encostar em mim, me cheirou e disparou:

-Chanel 5 e o cabelo preso em um rabo de cavalo. Vai valorizar seu estilo clássico e seus óculos redondos.

Que ousadia! Meu sexto sentido não estava errado, pensei! Minha vontade era de dar lhe uma bofetada e mandar ele sugerir aquilo à esposa dele. Resisti e entendi que ele precisa de algo diferente. Devolvi:

-Obrigado! Percebe-se que você tem muito bom gosto.

-É verdade. Aprendi a conhecer muito bem o universo feminino ao longo da vida.

Disse isso e estendeu a mão:

-Eduardo, a seu dispor. Sou advogado. Aliás, se precisar, sou o melhor da cidade.

Que metido! Que nojo! Respirei fundo, estendi a mão e o cumprimentando, respondi:

-Silvia, sua criada.

Depois de cumprimenta-lo, enquanto ele sorria faceiro, perguntei:

-Eduardo, me permite uma recomendação?

-Claro, Silvia. Quer sugerir um local?

Ele disse isso sorrindo, do alto de sua empáfia. Ele tinha certeza que eu estava no papo! Sorri de volta, me aproximei dele, e olhando com a minha melhor cara de tesão direto nos olhos dele, segurei seu pinto por cima da calça e disparei:

-Bioplastia peniana. Esse pinto pequeno não combina com sua arrogância.

Antes que ele pudesse reagir, me afastei dois passos e Lucas, meu marido, que estava no banheiro chegou. Os apresentei:

-Lucas, esse é o Dr. Eduardo. Ele é advogado. Dr. Eduardo, esse é o Dr. Lucas, meu marido. Ele é delegado federal. É provável que vocês se conheçam.

Enquanto os dois se cumprimentavam, eu disse ao Lucas:

-O Dr. Eduardo ia me fazer uma recomendação nesse instante, querido.

Eu e Lucas olhamos para o Eduardo que titubeou um pouco e disparou:

-O croissant daqui é ótimo!

Depois de dizer aquilo, Eduardo saiu rapidamente pela porta e o Lucas me questionou:

-Que história é essa de dizer que eu sou delegado federal, Silvia? Não gosta de dizer que eu sou fazendeiro?

-Foi só uma brincadeira com o Dr. Eduardo, querido. Nada demais.

Lucas deu de ombros e pediu um pão na chapa. Eu sorri feliz. Será que fiz a coisa certa? O que você faria no meu lugar?

2 respostas

  1. Que abusado ! Faria o mesmo !
    Tão cheio de si , mas não aguenta o jogo de uma mulher inteligente . Saiu pianinho com medo do “delegado federal” …. Bem
    Feito ! 😂

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.